Os sentimentos desta semana em palavras...e a traição da Nakuro.

Olá, alegria, bem-vindas a mais uma semana no meu blog. Peço desculpa pelo dia de atraso, mas trago mais um dia repleto de histórias para partilhar convosco! Sinto que para todas nós, esta semana foi marcada por um clima triste, com frio, vento e chuva extremamente desagradáveis. Como podem imaginar, a loja toda fresquinha acabou por combinar com o tempo ☹. Digo sempre, e isto após 20 anos neste ramo, que a mudança de estação é complicada e sempre o será, devido à instabilidade do tempo, deixando as pessoas confusas e indecisas.

Reparem, tivemos dias de 25 graus em janeiro, o início de fevereiro seguiu o mesmo padrão, e agora iniciamos março com temperaturas típicas de um inverno rigoroso, horrível! Mas sabem qual é a nossa sorte? Com o avançar dos anos, as viagens de avião tornaram-se mais acessíveis a praticamente todos, não precisando esperar por agosto ou julho para sentir calor; basta escolher um destino quente e voilà, lá vamos nós, mesmo estando em março.

Poucas pessoas sabem, mas no ano passado decidi viver essa experiência e embarquei numa das viagens mais maravilhosas da minha vida. Bali, um verdadeiro encanto! Em pleno mês de março, viajei para o calor, mas não foi apenas o calor atmosférico, foi também o calor humano, a cultura, os costumes, tudo. Foi apaixonante! Conclusão: levei na mala mais peças da nova coleção e tirei fotos fantásticas! O que quero dizer com isto é que, com este mau tempo, a única esperança que nos resta é que vocês, queridas clientes chiquérrimas, viajem e adquiram peças lindas da nova coleção para as vossas férias! Certo?

Mudando um pouco de assunto e seguindo o vosso conselho, comecei a contar com a ajuda das meninas e, na sexta-feira, fizemos um directo com a Brenda. Vocês gostaram tanto da Brenda que cheguei a ficar com ciúmes dos inúmeros elogios que ela recebeu, quase tantos quanto os da minha mudança de visual, kkkk. (Admito, sou vaidosa.) Graças a Deus, foi um sucesso, tanto para mim quanto para a Brenda, claro!

Que bom que o feedback foi positivo, ela é uma menina maravilhosa e super inteligente, com uma maturidade acima da média para a sua idade. Estou muito contente! No backoffice, tenho o furacão Joana, que leva tudo à frente, não deixa nada para amanhã, é tudo para agora!

Aos poucos, as coisas vão se ajeitando, com exceção da menina Catarina, que falhou no directo de sexta-feira, deixando-me extremamente preocupada. Mas tivemos o apoio da Alexandra, kkk. Adoro-vos, meninas. (Já parecemos uma família.)

Agora, parte mais séria do blog de hoje, é com muita tristeza e nostalgia que anuncio que deixarei de trabalhar com a marca Nakuro, uma marca que acompanhei desde o início, como se fosse um amuleto da sorte, um bebé que ajudei a crescer durante estes 20 anos.

Quando abri a minha loja, eu não sabia nada sobre marcas e estava à procura de algo que me interessasse e com o qual me identificasse. Foi então que me falaram da Nakuro, uma marca nacional com peças lindas e fashion. Lembro-me de ir até Gaia, no Candal, meio tímida, pedi para falar com a vendedora e abri o coração, explicando que estava a abrir uma pequena loja, que gostaria de ter a marca, mas não tinha dinheiro para pagar à vista. Propus que, se confiassem em mim, pagaria tudo em 30 dias. Jorge Vilar, o dono da marca e hoje meu amigo pessoal, ouviu a conversa e disse à vendedora: "Vende, essa miúda tem futuro, acredito nela." (Só vim a saber disto anos mais tarde.)

Nem preciso dizer que foi um sucesso absoluto, uma verdadeira loucura. Eu fiz milagres com apenas 18 m². Sentimentos de saudade e nostalgia invadem-me quando penso nisso. Contar é uma coisa, vivenciar é outra. Em um ano, devido ao crescimento, tive que mudar de loja, e, claro, não foi só por causa da Nakuro, mas sem dúvida que a marca foi a número um em termos de vendas.

Vendemos tantos vestidos, especialmente naquele ano em que a "Floribela" usava vestidos rodados com tule. A Nakuro lançou um modelo inspirado, o Fifty. Meu Deus, não havia casamento ou baile de finalistas sem um desses vestidos. Imaginem só, vendíamos cerca de 20 vestidos em 3 dias, tudo isso sem vendas online, apenas na loja física. Ah, que saudades!

Construímos uma bela amizade ao longo dos anos, e o Jorge e eu éramos como amuletos da sorte um para o outro. Ele fazia questão de que eu fosse a primeira a ver a nova coleção, para dar sorte. Vivemos muitos altos e baixos, e no ponto mais baixo da minha vida e carreira profissional, o Jorge foi, sem dúvida, o meu maior apoio, não apenas como fornecedor, mas como amigo. Sempre me emociono ao falar disso... Sou imensamente grata a ele, pois se Carla Valente ainda existe, devo isso a ele, que sempre acreditou em mim. Ele e a Isabel, a vendedora, eram uma dupla incrível.

A Nakuro era como uma família, desde a modelista à costureira, a Rita, a Delfina, o Zé, o motorista, todos espetaculares. Com a pandemia, como muitas empresas, enfrentámos crises, e o Jorge já pensava em deixar os "trapos". A pandemia foi o impulso que faltava para essa decisão. Quando ele decidiu fechar a Nakuro ou passá-la para outros, senti como se me espetassem uma faca no peito, uma dor misturada com vários sentimentos, mas a tristeza destacou-se.

Ele foi um verdadeiro senhor até ao fim, compensando todos os funcionários para que não ficassem desamparados durante a pandemia e ainda garantiu que ficassem com a nova gerência. Um homem de coração gigante.

Em 2021, a Nakuro mudou de gerência para um grupo mais jovem, cheio de ideias, mas com pouca experiência. Tentaram mudar o estilo, descaracterizando um pouco a marca, aumentaram os preços, e os prazos de entrega raramente eram cumpridos. A escassez de produtos e a queda na qualidade também começaram a ficar aquém das expectativas.

Parece que a magia desapareceu, aquele calor de família que nos acolhia sumiu... Uma simpatia forçada e tudo muito comercial. Durante 20 anos, trabalhei para fazer a marca crescer e tenho certeza de que fiz um excelente trabalho, pois em Matosinhos não havia quem não conhecesse a Nakuro. Agora, esses novos senhores, sem valores, decidiram abrir um outlet do meu lado, no maior segredo, sem uma palavra, um email, nada, para uma cliente da marca de mais de 20 anos. Horrível ver como se pode afundar uma marca em 3 anos. Perante esta atitude dos novos donos, percebendo que ainda tenho a marca deles na loja e não tiveram a decência de ao menos dar uma palavra por respeito, só me resta deixar a marca. E não é com pena que o faço, pois só tentei até agora por consideração e respeito ao antigo dono, Jorge Vilar, esses novos não significam nada para mim.

Vocês talvez não tenham noção, mas o mundo da moda é uma guerra constante nos últimos anos. Quem frequenta a loja pessoalmente sabe do que falo. Mas eu continuo aqui firme e, por vezes, posso ir abaixo, mas logo renasço das cinzas, feito uma fénix.

Não é fácil, estamos numa era que parece valer tudo, um salve-se quem puder, mas para mim não vale tudo. Ainda funciono à moda antiga, prezo os meus valores, então não é sorte, meninas, é muito trabalho. Durante 20 anos coloquei a marca no topo, e agora veem colher os frutos do meu empenho? Fracos! Boa sorte, apesar de tudo.

Este blog mais parece um livro ou uma autobiografia. Comecei tímida e hoje, vejam só, estive quase 2 horas a escrever. Vocês já fazem parte de mim, obrigada!

Obrigada pelo apoio demonstrado durante toda a semana, de todas as formas, pelo meu look, pela minha equipe, pela minha loja. Por tudo e mais alguma coisa, obrigada!

Um beijo nos vossos corações, com carinho, Carla Valente.